A revolução digital tem sido, sem dúvida, um dos fatores mais impactantes na transformação da advocacia no século XXI. Aroldo Fernandes da Luz explica que com a digitalização dos processos judiciais, o uso de inteligência artificial, automação de tarefas jurídicas e o surgimento das chamadas lawtechs, os profissionais do Direito precisaram se adaptar rapidamente a um novo modo de atuação. Hoje, dominar ferramentas tecnológicas não é mais uma opção, mas uma exigência para se manter competitivo e relevante.
Softwares que organizam documentos, plataformas que monitoram andamentos processuais em tempo real e até robôs que auxiliam na produção de peças processuais desafiam o advogado tradicional a repensar seu papel, focando cada vez mais em atividades analíticas, estratégicas e humanas — onde a tecnologia ainda não alcança com profundidade.
Quais são os efeitos da globalização no exercício da advocacia?
A globalização trouxe consigo uma série de impactos que também redefiniram a atuação jurídica. Com empresas operando em diversos países e legislações cada vez mais interconectadas, o advogado precisa compreender não apenas o ordenamento jurídico nacional, mas ter uma noção clara de direito internacional, tratados, normas de comércio global e questões como proteção de dados transnacionais e compliance internacional.
Além disso, o domínio de outros idiomas, especialmente o inglês jurídico, se tornou um diferencial cada vez mais necessário. Segundo Aroldo Fernandes da Luz, o cenário global também impõe desafios relacionados à diversidade cultural, ética profissional em contextos multiculturais e à necessidade de atualização constante diante de legislações que mudam com rapidez. O mundo do Direito deixou de ser local para se tornar amplamente transnacional.

Como lidar com a sobrecarga de trabalho e os impactos na saúde mental?
A pressão por resultados, prazos apertados, volume elevado de processos e a competitividade crescente no mercado têm levado muitos advogados a quadros de esgotamento físico e emocional. O fenômeno do burnout entre profissionais do Direito é cada vez mais reconhecido, impulsionando reflexões importantes sobre saúde mental na advocacia. Muitos escritórios e profissionais autônomos ainda mantêm uma cultura de trabalho exaustiva, que não prioriza o equilíbrio entre vida pessoal e carreira.
No entanto, Aroldo Fernandes da Luz destaca que há uma mudança de mentalidade em curso, com a valorização de ambientes de trabalho mais saudáveis, práticas de autocuidado, programas de bem-estar corporativo e a busca por modelos de atuação mais flexíveis, como o home office ou a advocacia colaborativa.
As novas demandas sociais exigem uma advocacia mais engajada?
Sim — o século XXI revisitou uma série de pautas sociais que desafiam os profissionais do Direito a repensarem seu papel na sociedade. Questões como equidade de gênero, racismo estrutural, proteção ambiental, acessibilidade e inclusão digital passaram a ocupar lugar de destaque tanto no debate público quanto nas demandas jurídicas.
De acordo com Aroldo Fernandes da Luz, o advogado contemporâneo precisa estar preparado para atuar com sensibilidade, respeito e embasamento nessas frentes, muitas vezes lidando com legislações em constante construção e embates ideológicos complexos. Mais do que técnicos do Direito, espera-se que os advogados sejam também agentes de transformação social, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
O modelo tradicional de escritório jurídico ainda é viável?
Por fim, Aroldo Fernandes da Luz ressalta que os grandes escritórios de advocacia, com estrutura hierarquizada e jornadas de trabalho extensas, continuam tendo espaço no mercado, especialmente em demandas de alta complexidade. No entanto, surgem cada vez mais alternativas que desafiam esse modelo. Essa diversificação é resultado das mudanças nos valores das novas gerações de advogados, que buscam mais autonomia, propósito e equilíbrio em suas trajetórias profissionais.
Autor: Igor Semyonov